domingo, 24 de fevereiro de 2019

A avó Helena


A Helena tem o nome da minha mãe. 
Infelizmente quis a vida que a minha mãe partisse cedo e quando engravidei pela primeira vez não houve outro nome em cima da mesa. Helena, seria sempre a Helena.
Não falo muito da avó Helena, o conceito de morte nunca foi abordado aqui em casa e a Helena é tão sensível.

No entanto, fruto do convívio com amiguinhos da escola nova onde anda, a Helena já tem uma noção de que as pessoas (pensa ela que só as velhinhas) vão para outro sítio, eventualmente.

Esta noite a Helena dormiu comigo pois está doente e tive que lhe dar medicação durante a noite. 
Incomodada, não tinha posição. Pediu-me que me colocasse de barriga para cima para que se deitasse atravessada sobre a minha barriga.
Quando fiz isto coloquei instintivamente o braço direito sobre o rosto, ao que a Helena perguntou:


"Mamã, porque fazes isso?"


"Olha, não sei... mas a minha mamã fazia o mesmo, sabias? faço muitas vezes como ela."


"A avó Helena.... a avó Helena já é uma estrelinha, não é mamã?"

"Sim, querida. a avó Helena já é uma estrelinha....!"

"Pois... e sabes qual é?"

"...  Não!?? Mas vamos olhar para o céu qualquer dia e vamos decidir qual é, pode ser?"

"Não é preciso... É de certeza a mais brilhante..."

💓 💓 💓

A minha Helena tem o nome certo ...
























Andreia Ferreira

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Peixes com olhos e boca



No banho, enquanto brinca ao "faz de conta", que tanto adora:

"Mamã, pega um peixe! Xegula!

"Já o agarrei , filha. " 
E levo o peixe imaginário à boca.


A Sara, escandalizada, grita:

"Não, mamã!!! (Enquanto me fala alto e aproxima a cara dela da minha)
Este peixe não é pa comer.  Este é daqueles que tem olhos e boca! 
Este é pa faxer festinhas!"



😍 😍 😍

Portanto, temos aqui 2 tipos de peixes. O que vem no prato e depois os que têm boca e olhinhos... 
Ora bem, como é que eu te vou explicar isto, meu amor pequenino? 💓






Andreia Ferreira

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Veia dramática: ON


Trazer a Sara do infantário nem sempre é uma tarefa fácil. A princesa tem uma veia dramática que a faz interpretar épicas tragédias gregas cada vez que chego para a buscar. 
É sinal que gosta do espaço onde passa o dia e das pessoas que cuidam dela, bem como dos seus amiguinhos. 
Fico feliz por isso, acreditem.

Mas é mais ou menos isto todos os dias: 

Chego, alguém anuncia: " Sara, a mamã chegou!" .

Olho para ela sempre com um sorriso enorme. Digo algo como "Olá meu amor!"

A Sara põe cara de choro como quem a vai arrancar do sono às 02h da manhã.

Foge para o canto da sala a chorar e a dizer: "Não! não!!!"

Vão buscá-la. 

Faz peso morto. 

Chora ainda mais e atira-se para  o chão.

Tentam acalmá-la mas acabam depois por ma entregar com a promessa de que vai continuar a fazer aquilo que teve que interromper no momento que a mãe malvada chegou.

Dispenso um esforço equivalente a 2 aulas de localizada no ginásio só para lhe conseguir enfiar o casaco, enquanto a tento convencer que está mesmo frio lá fora e que vai ficar doente se não o vestir. 
Deixa-se escorregar para  o chão até que a agarro com força e a tento distrair com qualquer coisa. 

Cansada e já consciente que não vai levar a melhor, chora mais uma vez mas é o choro do herói que tem de se render,o choro de derrota.
Abro a porta do infantário, a Sara lavada em lágrimas.

E do nada:

"Olha, um cão a ladar!  " ou então "olha, um avião a passar!!" 

😐 😐 😐


E vai a correr para o carro já toda contente, como se nada tivesse acontecido.
E é isto. Sem tirar nem pôr. Todo um momento de horror e experiência traumática é reduzido a nada com a brisa do vento. 😊




Andreia Ferreira

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